Apesar de não haver dados totalmente confiáveis sobre a produção de lixo no mundo, pesquisas do IBGE estimam que, só no Brasil, as cidades coletem mais de 228 mil toneladas de lixo por dia.
Carro de Diogo Henrique: "Não me importo em deixar o lixo no carro. Pelo menos, não entope bueiros."
LIDIANE AIRES
KEILA CÂNDIDO
do Rudge Ramos Jornal
Garrafas, papéis, panfletos. Tudo isso pode ser encontrado no carro do empresário Ivo Gimenes Silva, 46. Mesmo produzindo tanto lixo, ele se preocupa com o problema das enchentes e disse não jogar nada pela janela do carro. “Muita gente que não tem consciência joga lixo nas ruas. Quando vejo, chamo a atenção”, disse.
O problema do lixo não é uma preocupação só de Gimenes, mas tornou-se um assunto recorrente nos dias atuais, em que jogar lixo em qualquer lugar pode poluir rios e transmitir doenças.
Apesar de não haver dados totalmente confiáveis sobre a produção de lixo no mundo, pesquisas do IBGE estimam que, só no Brasil, as cidades coletem mais de 228 mil toneladas de lixo por dia.
Nesse imenso bolo de lixo está o do tipo comercial, gerado em estabelecimentos comerciais e de serviços, como bares, restaurantes e supermercados. Garrafas, plásticos, papelão, embalagens, tudo que se consome dentro e fora de casa. Inclusive nos carros.
Os automóveis se transformam em lixeira ambulante. Isso também pode refletir uma mudança no comportamento dos motoristas, que preferem juntar lixo no carro a jogá-lo nas ruas. Essa atitude contribui para que todo esse entulho não vá parar em rios e várzeas, destino de 20% de todo o lixo.
RECICLÁVEL - Milton Cuani Júnior é dono de dois lava-rápidos em São Bernardo. Um deles, o Ki-Joia, fica no Rudge Ramos e é administrado por ele desde 2002. Em média, 30 a 40 carros passam por lá todos os dias durante a semana. Nos fins de semana, esse número passa dos 60.
Tanta experiência permite a Cuani Júnior afirmar que, pelo menos seus clientes, estão ficando mais conscientes quanto a jogar lixo para fora do carro. Ele disse que já encontrou de tudo nos automóveis, desde dinheiro até celulares perdidos. Mas nada se compara à quantidade de materiais recicláveis encontrada nos veículos que lava diariamente.
“A cada dois dias, a gente enche sacos de uns 200 litros de lixo”, disse. O material retirado dos carros é coletado por catadores, já que na rua do lava-rápido não passam caminhões de coleta seletiva. “Até tem alguns postos aqui perto, mas a gente tem que levar”, afirmou.
Depois daquele passeio na praia ou de uma longa viagem, os motoristas mais zelosos costumam levar seus carros para uma limpeza. Eles vão para o lava-rápido repletos de lixo como garrafas plásticas, latas e embalagens de comida. “Ás vezes, o carro chega tão cheio que não tem como alguém sentar no banco do passageiro”, declarou Cuani Júnior.
Outro lava-rápido no Rudge Ramos, que funciona também como estacionamento, lava cerca de 35 carros durante os dias da semana e quase o dobro nos fins de semana. A quantidade de lixo encontrado nos carros também é grande e as sacolinhas oferecidas pelos lava-rápidos voltam cheias. “A gente acha papel higiênico, papéis, embalagem de salgadinho e de bolacha. As pessoas jogam no chão mesmo, quando não cabe mais na sacola”, disse Tiago Henrique, manobrista do estabelecimento.
ATITUDE - Alguns motoristas nem se dão ao trabalho de jogar fora, simplesmente porque não deixam juntar lixo. Rafael Forneio Bernardes, 27, analista de sistemas, é um deles. Ele não suporta a ideia de ter lixo em seu carro. “Não consumo nada, exatamente para não sujar. Não pego anúncios nos semáforos nem deixo os caronas consumirem coisas aqui no meu carro”, declarou.
Até quem varre as ruas nota mudança no comportamento dos motoristas. José Roberto da Silva é varredor de rua há quatro anos. Ele acredita que o comportamento dos pedestres em relação ao lixo não mudou. No entanto, ele vê uma melhoria na conduta dos motoristas. “As pessoas continuam jogando, mas é mais difícil ver motoristas [jogando]. Eles jogam mais é bituca de cigarro. Ás vezes, até pedem para eu esvaziar as sacolinhas quando param no semáforo.”
As sacolinhas de lixo para carro, feitas para serem encaixadas no câmbio da marcha, são oferecidas por grande parte dos lava-rápidos e ajudam o motorista na hora de descartar papel de bala, por exemplo, fáceis de serem atirados pela janela. O lava-rápido West Park é um dos que oferecem saquinhos. “Sempre chegam cheios”, falou o manobrista Henrique.
Mesmo sem a convencional sacolinha colocada pelo lava-rápido, Diogo Henrique Costa, 27, não joga o lixo pela janela do carro. Ele improvisou um lixinho com uma sacolinha de supermercado. Seu carro está sempre cheio de material reciclado no assoalho e isso vira até motivo de piadas entre seus amigos. “Meus colegas me perguntam se estou esperando o caminhão do lixo passar para recolher todo esse lixo que está aqui”, contou. O lixo no carro de Costa revela o bom comportamento em relação ao meio ambiente. “Não me importo em deixar o lixo aqui, pelo menos não está nas ruas, entupindo bueiros”, disse.
Apesar de os clientes dos lava-rápidos demonstrarem ser educados e preferirem deixar o carro sujo a jogar lixo pela janela, ainda há quem faça o contrário, optando por arremessar o lixo na rua a deixar o carro cheio. “Acho uma falta de educação e de cidadania absurda. Uma tremenda falta de preocupação com o outro”, afirmou Valdinei Silva, 41, professor e geógrafo que passa todos os dias pelas ruas da cidade e também recusa panfletos entregues no semáforo.
E, se depender da pedagoga Márcia Garcia, 48, a quantidade de lixo arremessado de carros vai diminuir ainda mais. “Não é sempre que estou em lugares onde tem lixeiras. Portanto a única opção é guardar [no carro] e jogar em casa” disse. “Também faço questão de separar o material reciclável. Tomei essa consciência por meio de propagandas. Acho muito importante preservar o meio ambiente”, relatou a pedagoga.
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