segunda-feira, 18 de outubro de 2010

É possível invadir os sistemas dos carros e assumir suas funções?

Editora Globo

Você dirige pela estrada numa boa, quando, de repente, as portas do veículo destravam e travam sozinhas, a temperatura do ar-condicionado sobe, as luzes piscam, o velocímetro fica maluco e os freios deixam de funcionar. Poltergeist? Hum... Você está assistindo a muitos filmes sobrenaturais.

Pesquisadores das universidades de Washington e Califórnia, nos Estados Unidos, têm uma resposta mais plausível, embora não menos preocupante: hackers! Sim, aqueles carinhas que dominam códigos de programação e resolvem (ou causam) falhas em nossos computadores pessoais podem fazer o mesmo nos automóveis.

Ao menos, foi o que os cientistas demonstraram em testes que conectaram um laptop convencional à porta do sistema embarcado de diagnose OBD-II de um sedã. A partir de comandos aleatórios, eles não tiveram dificuldade, por exemplo, para desligar o motor e desativar os freios enquanto o carro rodava a 65 km/h. “Essa porta dá acesso à rede interna do veículo. Como a rede não é protegida, a não ser fisicamente, qualquer pessoa que tenha contato com o automóvel pode plugar um dispositivo ali e usá-lo para fazer os ataques”, afirma Franziska Roesner, que participou do estudo.

Sem a oportunidade de reproduzir o experimento, Autoesporte consultou especialistas no assunto para checar se isso é mesmo possível. Ronaldo Mazara Júnior, engenheiro automotivo da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade do Brasil (SAE), acredita que a tarefa seja muito difícil, já que exige profundo conhecimento não só de informática, mas de engenharia mecânica.

“O OBD-II dá acesso a uma linha de dados passiva, que permite a leitura de informações para diagnósticos e a atuação de mecânicos sobre somente alguns módulos, os demais têm sistemas de proteção criptografados”, explica. Para ele, os pesquisadores podem ter tido acesso facilitado ao código-fonte da unidade de controle eletrônico (ECU). “Em teoria, é possível descobrir esse código. Já conseguiram entrar até nos computadores do Pentágono e da Nasa. Mas acho improvável”, conclui.

Os próprios pesquisadores norte-americanos entendem que o risco de invasões é baixo, já que seria necessário um contato físico com o automóvel. “Pessoas mal-intencionadas podem conseguir isso. Não seriam casos corriqueiros, mas, praticamente, questões de espionagem”, afirma Eduardo Abreu, gerente de vendas de softwares de segurança da IBM.

Assim, os testes servem de alerta para a indústria que investe cada vez mais em sistemas interconectados e/ou sem fios. “No começo, as peças eram isoladas. Agora, caminha-se para uma arquitetura em que os componentes trocam informações entre si. Pior, há cada vez mais ligações wireless. Assim, eu posso me conectar ao rádio, através do celular, e encontrar uma maneira de chegar à ECU. Para o sistema só existem bits e bytes, sequências de 1 e 0. Se você der o ‘abre-te, sésamo’ certo, vai entrar”, diz Paulo Lício de Geus, mestre em engenharia elétrica e doutor em ciências da computação da Unicamp. Os pesquisadores norte-americanos reforçam essa ideia, já que identificaram no carro testado ao menos cinco tipos de interfaces de rádio que aceitam entrada de dados de fora da rede.

NOSSO
VEREDICTO: VERDADE
DECODIFICADO
Embora seja difícil e exija amplo conhecimento, a invasão dos sistemas de segurança do carro é possível, quando não há dispositivos apropriados de proteção – como criptografia avançada.

autoesporte

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