segunda-feira, 31 de maio de 2010

Veto a estacionamento no centro de SP requer mais metrô e ônibus, dizem especialistas

Prefeitura quer restringir vagas nas ruas após construção de garagens verticais.

Divulgação / CET
Prefeitura de São Paulo pretende acabar com estacionamento nas ruas do centro expandido até 2012

O projeto da Prefeitura de São Paulo que quer restringir as vagas de estacionamento em vias de grande circulação de veículos no centro expandido da capital a partir de 2012 deve contribuir para aumentar a fluidez do trânsito na região, desde que a administração municipal invista bastante em transporte coletivo. É o que dizem especialistas em trânsito e transportes ouvidos pela reportagem do R7. O professor da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) Jaime Waisman diz acreditar que a medida é necessária, pois não há mais espaço para a construção de novas ruas ou para o alargamento das já existentes. Entretanto, para ele, a iniciativa tem limitações à medida que não conseguirá conter a expansão diária da frota de veículos em São Paulo.

- A medida tem prazo de validade. A cultura do transporte individual se fortalece pela falta de qualidade do transporte público.

Como alternativa às restrições das vagas, a prefeitura prevê a construção de estacionamentos verticais. Diante da necessidade de pagar para poder parar o carro no centro da capital, os motoristas poderão passar a preferir o transporte público. Mas isso só deve acontecer quando o Estado e a prefeitura de São Paulo investirem na ampliação das linhas de Metrô, que é considerado, segundo o ex-secretário de transportes, Getúlio Hanashiro, a alternativa mais atraente para quem pensa em deixar o carro na garagem.

- O metrô paulistano está saturado. É preciso aumentar a malha metroviária até 2012 para que esse transporte seja atraente para quem circula pela cidade só de carro. Você tolhe a liberdade do cidadão [restringindo o estacionamento], mas tem que compensá-lo de alguma forma.

Para Hanashiro, os corredores de ônibus colaboram para que a população circule mais rapidamente pela capital, mas não são a melhor alternativa. Isso porque “eles são poucos segregados [interligados] e os ônibus têm que parar em semáforos e cruzamentos”. Entretanto, Waisman opina que a velocidade dos ônibus nos corredores ainda é vantajosa, se comparada com o tráfego de veículos nas ruas.

Já para João Virgílio Merighi, professor de engenharia de transportes da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o projeto da prefeitura “é impopular, mas corajoso”. Ao contrário do especialista da USP e do ex-secretário de transportes da capital, Merighi diz que uma ampliação considerável da malha metroviária a médio prazo é uma ilusão.

- Por causa do alto custo, é possível fazer, em média, 1 km de metrô por ano. A alternativa para cidades como São Paulo são os veículos leves sobre trilhos [espécie de bondes modernos], com capacidade para 220 pessoas cada um. Eles têm baixo custo, são silenciosos e não poluem o meio ambiente.

Ainda na opinião do professor do Mackenzie, a restrição de vagas para estacionar no centro da capital pode estimular as pessoas a andarem mais a pé.
- Tem gente que pega o carro para andar três quarteirões. Em países como França e Inglaterra, as pessoas estão acostumadas a andar quilômetros para se locomover. Aqui no Brasil, a população quer se locomover sempre sobre um motor. Carro é mordomia, não é necessidade.

Garagem vertical

A Secretaria de Transportes está em fase final de análise da escolha do projeto da empresa que irá construir 60 novas garagens verticais com cerca de 400 vagas cada uma. A restrição das vagas nas ruas do centro expandido, a ser implantada a partir de 2012, será feita em vias que estejam em um raio de 200 a 300 metros das novas garagens.

A partir do momento em que passar a valer a proibição no centro expandido, a zona azul servirá apenas em ruas de menor movimento ou em apenas um lado das principais avenidas. As 32 mil vagas que serão criadas com os estacionamentos verticais vão aceitar os cartões da zona azul.

Getúlio Hanashiro e Jaime Waisman dizem acreditar que a criação dos estacionamentos verticais pode obrigar os donos de outros estabelecimentos na capital a cobrarem mais barato pelo serviço. O ex-secretário de segurança comenta:

- A experiência mostra que a produtividade e a competência de gestão de um serviço acaba sendo melhor no setor privado. Mas, o Estado precisa aprimorar a fiscalização e garantir que os valores do estacionamento sejam acessíveis para a população. Hoje, há estabelecimentos privados que cobram R$ 16 a hora. Isso não pode acontecer com as garagens verticais.

Várias restrições ao trânsito já vigoram no centro expandido de São Paulo. É nesta área que funciona o rodízio obrigatório de carros, que proíbe a circulação de veículos com dois finais de placas por dia nos horários de pico (das 7h às 10h e das 17h às 20h).

Desde 2008, os caminhões também não podem circular em uma parte do centro expandido de São Paulo em certos horários. Essa área de proibição foi chamada de Zona de Máxima Restrição de Circulação, que corresponde a uma parte da região central da capital.

A prefeitura também limita a circulação dos ônibus fretados desde julho de 2009 em certos horários dentro da Zona de Máxima Restrição de Fretamento.

r7

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