sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Após denúncias, flanelinhas continuam agindo livremente em BH

Tomadores de conta continuam a cobrar pelo uso do espaço público nos mesmos locais em que foram flagrados pelo Estado de Minas há três meses

No Barro Preto, carro permaneceu a maior parte da tarde estacionado em fila dupla, para ser lavado,  - (Jair Amaral/EM/D.A Press)
No Barro Preto, carro permaneceu a maior parte da tarde estacionado em fila dupla, para ser lavado,

Três meses depois de o Estado de Minas denunciar a máfia dos flanelinhas, revelando que muitos lavadores e guardadores de carro cobram mensalidades para que motoristas estacionem os veículos nas ruas e avenidas de Belo Horizonte, vários deles continuam ditando as regras para que os contribuintes, que já pagam os elevados impostos em dia, possam parar o carro numa vaga pública. O preço dos achacadores oscila de acordo com a região e pode chegar, no fim do mês, a R$ 100, valor que corresponde a 19,6% do novo salário mínimo (R$ 510), que entrará em vigor em 1º de janeiro. A série de reportagens, publicada de 4 a 8 de outubro, levou a Polícia Militar (PM) a prender alguns "donos dos quarteirões", mas, quase três meses depois de a nova modalidade de extorsão ter sido revelada, pouca coisa mudou.

A situação continua a mesma em vários endereços da capital, como no primeiro quarteirão da Rua Itambé, entre a Avenida dos Andradas e a linha do metrô, no Bairro Floresta, na Região Leste de Belo Horizonte, onde os flanelinhas cobram R$ 5 pela diária ou R$ 100 por mês. A geometria da quadra permitiu ao grupo transformar o espaço público em estacionamento particular, pois o trânsito no quarteirão é interrompido pelo muro que protege o trilho do metrô. É comum encontrar cones colocados pelo grupo nas vagas reservadas aos “clientes”.

O quarteirão tem espaço suficiente para cerca de 20 carros, mas quem for ao local verá que os donos da quadra estacionam alguns veículos na calçada para aumentar o rendimento do negócio ilegal. Quase três meses depois de denunciar a ação dos maus guardadores e lavadores que agem no local, o EM retornou ao endereço ontem interessado em conseguir uma vaga como mensalista. J., um dos flanelinhas que explora a atividade na Rua Itambé, informou as condições de pagamento. “Cobramos o equivalente a R$ 5 por dia”, afirmou o rapaz, acrescentando que a maioria dos seus clientes trabalha no Departamento de Estradas de Rodagem (DER), cujo prédio-sede é em frente ao quarteirão explorado por J. e seus amigos.

Nenhum deles usava o colete verde que estampa o registro do lavador ou guardador de carro na prefeitura. Pela lei, todo flanelinha cadastrado no município deve usar o uniforme que o identifica como um profissional apto a vigiar e lavar os veículos estacionados nas vias públicas de Belo Horizonte. A regra ainda diz que o dono do colete não poderá exigir uma quantia em troca da tradicional olhadinha de mentira: o condutor só paga ao flanelinha se quiser. Porém, quem estaciona nas ruas e avenidas da cidade sabe que a norma não é obedecida por muitos guardadores de carro.

Vários abordam os motoristas e impõem seu preço, como G., que explora o primeiro quarteirão da Rua Aquiles Lobo, na esquina com a Avenida dos Andradas: "Cobro R$ 4 por dia". Ele assegura que não reserva vagas e tampouco cria caso se o cliente se recusar a pagá-lo, mas faz um alerta: "Se alguém danificar o carro, não vou poder fazer nada". Em seguida, para tentar convencer o condutor a se transformar em cliente, acrescenta: "Mas quem me paga pode ficar tranquilo, pois se ocorrer um arranhão ou esbarrão vou atrás de quem fez isso. Não o deixo sair daqui até o dono do carro chegar. Se preciso, ligo até para a polícia".

Este é o desejo de muitos motoristas achacados pelos maus flanelinhas. A PM sempre recomendou às vítimas que acionem o 190. Em 2008, a corporação deteve 198 flanelinhas por exercício ilegal da profissão. Outros 160 nos sete primeiros meses deste ano. É bom a PM flagrar o que ocorre nas imediações da Praça da Estação, onde flanelinhas abordam os motoristas antes mesmo de os condutores descerem do veículo. "Quer uma vaguinha, chefe?", é a pergunta feita por um deles toda vez que um carro sinaliza que vai estacionar na Rua Aarão Reis, que liga a Praça da Estação à Serraria Souza Pinto. A maioria dos flanelinhas que agem no local não usa o colete com o registro na prefeitura.

Péssimo exemplo

Mas só há extorsão porque muitos motoristas alimentam a famigerada prática. É comum ver flanelinhas com pencas de chaves nas mãos, numa clara confirmação de que há condutores que incentivam a máfia dos flanelinhas. Na Rua Tenente Brito Melo, entre a Avenida Amazonas e a Rua Alvarenga Peixoto, no Barro Preto, na Região Centro-Sul, um flanelinha passou parte da tarde da última quarta-feira lavando um carro estacionado em fila dupla. Mais um exemplo que deve ser punido pela PM.

UAI

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