A falta de vagas nas quadras comerciais da Asa Sul foi debatida por mais de três horas em uma audiência pública na manhã de ontem, na Câmara Legislativa. Da discussão, surgiram pelo menos cinco alternativas para amenizar o problema que irrita moradores e empresários. A principal delas — que obteve o apoio de todos os integrantes da mesa — é a criação do estacionamento rotativo tipo Zona Azul, solução que chegou a ser implementada em 2003, mas que durou apenas uma semana.
A proposta partiu da Associação Comercial do Distrito Federal (ACDF). A ideia é que a primeira hora seja gratuita. No entanto, não se falou em valores. Apenas que a renda poderá ser transferida para entidades filantrópicas de apoio às crianças e aos adolescentes em situação de risco. Mas a maioria das sugestões veio do Sindicato dos Bares e Restaurantes (Sindhobar). É da entidade a proposta de viabilizar o uso dos estacionamentos ociosos do Parque da Cidade e do Autódromo. “Mas, para isso, o governo precisa colocar polícia e transporte público até a W3. Do jeito que é hoje, eu mesmo não deixo meu carro lá porque, quando voltar, ele terá sido roubado”, ressaltou o presidente da entidade, Clayton Machado.
Também são do Sindhobar duas das propostas mais polêmicas. Transformar as pontas de quadras em estacionamento — jogando brita sobre a grama — e a abertura de uma rua no fundo das lojas (leia detalhes no quadro). Essas sugestões foram praticamente descartadas pelo representante do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) Eduardo Rossetti e pelo secretário de Ordem Pública, Roberto Giffoni. O motivo é um só: elas reduzem a qualidade de vida do cidadão e ferem o tombamento de Brasília.
Os representantes da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (Seduma), do Iphan e da Secretaria de Ordem Pública não deram sugestões, apenas comentaram o que pode ou não ser viável. Mas, na avaliação do deputado Raimundo Ribeiro, a ausência do Departamento de Trânsito, da Administração de Brasília e da Secretaria de Segurança Pública prejudicaram o debate. “São órgãos que efetivamente têm responsabilidade de resolver o problema e simplesmente ignoraram o debate”, criticou. Segundo Ribeiro, as sugestões reunidas ontem serão entregues ainda hoje ao governador José Roberto Arruda.
Mentalidade
Além das opções de ampliação das vagas, todos concordam que é preciso mudar a mentalidade do consumidor e também do lojista. “O empresário e os funcionários não podem estacionar na porta da loja às 8h e sair às 18h. Tomam vaga do cliente deles e dos outros”, afirmou Marta Cury, vice-presidente da ACDF. Maurício Goulart, representante da Seduma, destacou que as cidades que conseguiram resolver o conflito entre automóvel e pedestre adoram medidas restritivas, como a proibição do acesso ao carro na área central da cidade.
Análise da notícia
Rotativo é a saída
Marcelo Tokarski
Implementar o estacionamento rotativo nas quadras comerciais do Plano Piloto parece ser a única saída razoável para a falta de vagas. Na grande maioria das cidades do Brasil e do mundo, essa é uma prática bastante comum. Com a primeira hora gratuita, a maioria dos motoristas não chegaria a gastar para parar o carro na hora de ir à farmácia ou à padaria.
No entanto, a medida iria inibir o uso das vagas por carros que passam o dia inteiro estacionados, impedindo um uso mais democrático do espaço público — nas entrequadras onde há quitinetes, os moradores não seriam punidos, pois a cobrança valeria apenas para o horário comercial, de segunda a sábado. O brasiliense costuma rejeitar a ideia. Mas o crescimento da cidade e, principalmente, da frota de automóveis (já “somos” mais de 1,1 milhão de veículos) não deixa muitas alternativas. Uma ressalva: o preço cobrado deve ser acessível, e não se tornar mais uma fonte de renda para o poder público ou para as empresas exploradoras do serviço.
As alternativas
Estacionamento rotativo tipo Zona Azul
A primeira hora é gratuita. A partir disso, o condutor paga uma taxa para deixar o carro. O sistema seria administrado pela Associação Comercial de Brasília e a renda transferida para uma entidade de assistência a jovens e adolescentes em situação de risco.
Estacionamento do Parque da Cidade e do Autódromo
Os motoristas usariam as vagas ociosas nesses dois locais. Mas, para isso, o governo teria que garantir policiamento e transporte público até as quadras comerciais. Uma das opções seria o zebrinha.
Vagas subterrâneas
A construção de estacionamentos subterrâneos a cada duas quadras e também nas 900. Isso possibilitaria a abertura de novos espaços
para os carros sem ferir o tombamento da cidade. É uma proposta a médio e longo prazos e que exige investimento alto.
Viela nos fundos das lojas
Abertura de uma rua no fundo de cada bloco das quadras comerciais onde somente os comerciantes poderiam estacionar seus carros. O espaço também seria uma alternativa para carga e descarga. Foi totalmente descartada pelo Iphan por ferir o tombamento de Brasília.
Transformação das áreas verdes nas pontas das quadras em estacionamento
Foi a primeira sugestão dos lojistas após o início da operação fila dupla em que o Batalhão de Polícia de Trânsito passou a exigir do condutor que respeite o código de trânsito ao parar o carro. Cobrir a grama com brita não está entre as opções do governo por reduzir a qualidade de vida e ferir o tombamento.
Correio Brasiliense
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